quarta-feira, 28 de julho de 2010

Saudades



Numa viagem de carro, uma viagem ao passado...
Sabe quando se é pequeno e as coisas ao redor parecem tão grandes e bonitas, mas aí se cresce e passamos a vê-las menores, ou do tamanho que são?
Numa viagem para visitar parentes, o encontro com lembranças da infância...
Tudo de certa forma é igual e estranho. Os móveis não mudaram muito, a cidade sofreu algumas mudanças, as pessoas envelheceram, mas tudo tem um jeito de despertar a memória. O passeio pelo mercado no domingo: tem que comprar chuvisco e polvilho! Já se andou por aquela rua, já se viu aquela praça.
E olhando as feições de alguém se reconhece traços de outra pessoa. Um olhar, um sorriso, o jeito de rir...
Não se sabia que um lugar podia carregar tanta lembrança de alguém que nem morou ali, que também só esteve ali de passagem. Mas estiveram ali juntos.
Sabia que dá para sentir saudade olhando um desconhecido na rua?
Basta um detalhe que se pareça com quem já não está.
Saudade do que apenas se sonhou viver...
Tem tanto jeito de sentir saudade!
Saudade que fica calada no peito fingindo que não existe só porque sabe que não dá pra passar.
Saudade que às vezes estoura do nada e fica difícil até respirar.
Saudade que acompanha todos os dias e que se mistura com o resto da vida, pois já ganhou o seu lugar.
Saudade que não se contenta enquanto não for resolvida, que grita, exige atenção, é suicida e pede pra alguém matá-la de uma vez.
Saudade faminta que implora por migalhas quaisquer que sejam: uma foto, uma voz, um perfume.
Saudade que não se contenta com pouco e que só se daria por satisfeita se conseguisse um abraço apertado, um colo aconchegante ou um cafuné.
Tem um monte de tipos de saudade, mas acho que só um jeito de fazê-la acabar. É a presença de quem se sente falta, é estar com quem por quem se espera.
Às vezes dá para fazer isso. Dá para pegar o telefone e dizer: “Oi, estou com saudade, vamos nos ver”. Nesses tempos de Internet, orkut e cia, dá para mandar um e-mail, um scrap, ou seja lá o que for, pedindo pela presença, marcando um encontro.
Mas às vezes nada disso é possível, não se pode ter aqueles por quem se anseia. Talvez a distância seja grande, talvez a vida seja outra, ou talvez a pessoa não esteja mais aqui.
São essas as saudades mais poderosas, mais insistentes e as que menos deixam possibilidade de resposta. Então se tornam companheiras, nos seguem pela vida. Vão tecendo nossas lembranças. Ganham um canto no peito. Não atrapalham a vida, depois de um tempo não doem, não fazem sofrer, mas estão sempre lá, pois são feitas de carinho, de amor, gratidão, felicidade, tudo que houve de bom.
São só saudade...

28/07/2010

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