terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cansaço



O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Desejos

Quero cadeira de balanço
para sentar e ninar os sonhos
como quem nina criança nos braços
embalada pela voz de serena canção

Quero rede na varanda
para dar pouso à esperança
como quem deita e descança
acalentada pela 
brisa de verão

Quero água de cachoeira
para levar embora as tristezas
como quem brinca de ser criança
mergulhando em ribeirão

Quero perfume de flores pela casa
para adoçar a alma
como quem colhe a beleza
de um jardim

Quero a lua banhada em prata
para iluminar o caminho
como quem acende lampião
na escuridão

Quero escrever belo poema
para encotrar um sorriso
como quem sabe que é preciso
dizer mais do sentir

Quero como quem deseja
a vida
para experimentar de cada dia
sua porção de alegria
e  se puder, sempre mais...
...

...


Escrito numa sala vazia,
ainda que cheia de móveis que muito ouvem,
mas insistem em não contar 
suas histórias...

Escrito numa sala sem janelas,
onde o vento não tem passagem,
mas existe na vontade
dos que sonham com sua visita...

Escrito num cenário
feito para propagar saúde,
mas que tem suspiro de 
tristeza, desamparo e cansaço...

Escrito numa votade 
de poesia, 
de beleza,
de criação...


quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Num piscar...

Assim como no final do ano passado, resolvi sentar e escrever sobre esse ano que termina, mas antes resolvi ler o que havia escrito aqui no blog sobre 2010. Minha surpresa foi descobrir que meu texto começava falando das mesmas coisas que queria comerçar falando neste texto aqui!
Queria falar de como o ano passou num piscar de olhos, como se no mesmo segundo fosse dezembro de 2010 e já dezembro de 2011... Mas dizer também que mesmo com tudo acontecendo tão rápido, tanto se passou que parece que todo uma eternidade coube nesse ano, e acontecimentos que se deram logo ali parece que já se passaram há tanto tempo!
Parando para pensar chego a conclusão de que essa é uma sensação - da rápida passagem do tempo - que tem nos acompanhado cada vez mais (embora não seja uma novidade). Os dias são sempre poucos para darmos conta do que temos que dar conta, e quando vemos estamos vivendo nessa corrida maluca. Só que quando nos detemos nos instantes, nas marcas do que vivemos, tudo pode ganhar mais cor, mais duração, e aí nos espantamos com a intensidade da vida que vivemos e muitas vezes não percebemos. 
Também fiquei pensando nessa nossa história de marcar a passagem do ano... Ultimamento ouvi algumas pessoas falando disso: "como se tudo fosse mudar de repente, a vida continua!",  coisas do tipo... Num primeiro momento, tem que se concorda, é isso aí mesmo! Mas pensando mais um pouquinho... fazemos com o ano o mesmo que fazemos com várias coisas na vida, criamos esse "território temporal", onde colocamos planos, desejos, expectativas, receios, alegrias, dúvidas, enfim...
Pensar na vida como um fluxo, constante, infinita, ilimitada, é tão grande, né? Viver pensando nesses termos pareceria... sei lá! Então construímos essas ilhas, espaços em que podemos nos sentir mais seguros. Esses espaços tem tantos tamanhos e formas, que não dá nem para contar, o ano é só mais um deles. Mas eles são importantes, eles têm sentido e ajudam a dar sentido.
Agora que um desses anos termina a hora é mesmo de parar e pensar naqueles desejos, esperanças, medos, planos, alegrias, surpresas que o fizeram. Também é hora de dar uma olhada no "estoque" e tirar de lá tudo que tem a etiqueta "2012". O que foi bom nesse ano, não tem problema nenhum em que se permaneça, mas o que não foi, também não vai fazer mal nenhum em se acabar junto com 2011.
Nesse momento, só podemos imaginar como será, pois o anos só se faz no momento em que se faz. Vamos então ficar na torcida, para que consigamos piscar um pouco mais devagar, para que a corrida seja um menos maluca, para que os momentos possam durar mais, serem mais saboreados, que ganhem um gosto de vividos plenamente.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Da passagem do ano


Nessa época paramos para pensar em como foi o ano que passou e começamos a planejar o ano que virá... Aproveitando esse clima compartilho as belas palavras de Viviane Mosé, que me foram dadas de presente, e que presenteio quem andar por aqui...

Vida e tempo (Viviane Mosé)

quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos?


o tempo andou riscando meu rosto

com uma navalha fina


sem raiva nem rancor

o tempo riscou meu rosto

com calma

 
(eu parei de lutar contra o tempo

ando exercendo instantes

acho que ganhei presença)

 

acho que a vida anda passando a mão em mim.

a vida anda passando a mão em mim.

acho que a vida anda passando.

a vida anda passando.

acho que a vida anda.

a vida anda em mim.

acho que há vida em mim.

a vida em mim anda passando.

acho que a vida anda passando a mão em mim


 e por falar em sexo quem anda me comendo

é o tempo

na verdade faz tempo mas eu escondia

porque ele me pegava à força e por trás

 um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo

se você tem que me comer

que seja com o meu consentimento

e me olhando nos olhos


acho que ganhei o tempo

de lá pra cá ele tem sido bom comigo

dizem que ando até remoçando

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Entre Linhas...: Doenças

Entre Linhas...: Doenças: Muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos abscessos tumores nódulos pedras são palavras calcificadas poemas sem vazão mes...

domingo, 30 de outubro de 2011

Da distância




Eu queria que você chegasse perto
Queria teu toque
Teu cheiro
Teu sabor
Queria tuas mãos
Teus olhos
Teus lábios
Queria te ter por inteiro
Pra me entregar por inteiro
Sem medo
Sem culpa
Sem dor
Por que tem que ser difícil?
Por que parece impossível?
Vale esperar por tua palavra certa
Cabe dar a minha resposta
Ainda que errada
Incerta
Errante
?
No certo ou errado
No faço ou não faço
Perde-se tanto tempo
Tempo que não se conta pelas horas
Mas pela medida do que se sente
A cada pulsar
Medo de jogar-se
Medo de ficar onde se está
Por onde anda aquele caminho
Que traçado já estava
Do início até o fim?
Como é teu rosto
Teu corpo
Tua voz?
Verdade feita
Dos pedaços do que não
Pode ser mais do que
Ilusão
Queria entregar-me a ti
De corpo
Alma
E o que mais for
Da distância em que habito
Chegar ao teu lugar
Não mais barreiras
Não mais medos
Não mais
Teu rosto construído
Nos detalhes da vida
Ganhando finalmente cor
Teu corpo
Contorno
Prum rio que corre
Sem direção
De onde vem?
Onde vai dar
Pra nadar?

E no silêncio
Na dúvida
Ser tua
Poderia bastar
Mas não basta
Não cessa
Não para de transbordar
Ser tua
Completamente
Deveria calar
...
Queria que chegasse perto
Desse o teu toque
Teu sorriso
Tua voz
Mas fica a sombra
O rosto sem face
Um brilho que é disfarce
Você não está
Queria poder tocar-te
Com o poder do
Teu toque em mim

domingo, 28 de agosto de 2011

Dia do Psicólogo

Ontem, 27 de agosto, foi comemorado o dia do psicólogo. Para aqueles que possam ainda não saber, esta é minha profissão. Esse dia é uma oportunidade, creio, de pensar nossa prática, seja individual ou coletiva. Tentei fazer um pouco isso... 
Tenho quase um ano de formada oficial (coisas da UFF que demora a deixar a gente colar grau) e nesse ano acho que já experimentei um cado de coisas. Já passei pela insegurança que dá estar recém formada e pensar que não dá para se garantir só com a psicologia e é preciso arrumar qualquer outra coisas só para ajudar no início e perceber que "qualquer coisa" não é bem o que a gente quer fazer. 
Já passei, e ainda passo, pela crise de estar ocupando um lugar que não tem como rótulo o nome "psicólogo", mas venho descobrindo que o nome só não serve para nada e que ser psicólogo se trata de outra coisa. 
Hesitei e depois arrisquei experimentar possibilidades de trabalho que sempre acreditei não serem propícias para mim. Surpreendo-me constantemente ao perceber como estava enganada, ao percerber que a gente vai construindo nossa prática, criando nosso "corpo-psicólogo-at-monitor-e o que mais vier" para dar continuidade ao trabalho. 
Venho aprendendo que acolher, cuidar, escutar, criar, dar suporte são muito mais do que meras palavras, e que não se fazem de acordo com um manual de instruções. A gente aposta, confia, erra, tenta de outra maneira e vai vendo que existem tantas formas diferentes de se fazer e que nunca vai ser sempre igual...
Deixei o ninho (a segurança de estar num estágio fantástico, com supervisor incrível, com colegas também incríveis), confesso que com certa relutância, mas fazer o que?, era já o tempo... E também não quer dizer que às vezes não sinta uma vontade gigantesca de voltar para lá... Mas não "caí no mundo" sozinha. Tratei de ficar perto de quem estava vivendo a mesma aventura e disposto a compartilhá-la. A gente se ajuda, chora, ri, se diverte, fica "pau-da-vida" junto. A gente, apoia o trabalho um dos outros, compartilha as experiências, se supervisiona. Trabalhamos juntos e também analisamos o trabalho que temos feito. Sei que quando estou sentada na frente de um paciente no consultório ou acompanhando um outro pelas ruas, não estou sozinha, fazendo coisas que me deram na cabeça, mas tenho comigo pessoas comprometidas em pensar a clínica, e o que é ser psicólogo. 
É apenas o primeiro dia do psicólogo que comemoro de verdade. Só um ano ainda começando a engatinhar nessa prática, mas posso dizer que foi um ano de muitas intensidades. Só posso esperar que todos os outros que ainda virão tragam muitas intensidades mais. 
E ficam aqui meus agradecimentos...
aos meus companheiros GIRAntes,  às minhas  BOAs CIAs, aos limiantes, e aqueles que a gente encontra rapidinho e vai andando na rua, parando para conversar um pouquinho na Cantareira ou no corredor da UFF e muitos outros mais...
por estarem comigo neste ano e meu desejo de que continuem nesta caminhada comigo por longo tempo.


quinta-feira, 28 de julho de 2011

Vinicices: Nascimentos

Vinicices: Nascimentos: " Outro dia li um texto muito bonito, do meu tio Roberto, falando sobre a transformação de pai em avô. Ele me fez perceber algo que nos esc..."

terça-feira, 26 de julho de 2011

terça-feira, 5 de julho de 2011

Palavras desenhadas

 

O desenho pediu para virar palavra
Não disse qual
Só insitia a brancura do papel
Para que fosse preenchida por letras
A folha de desenho fez-se papel de carta
Carta para quem?
Carta de quem?
Num espaço onde o tempo que se sente
É diferente do relógio
Onde linhas bem traçadas desenham 
Um corpo possível
Contorno que muda constantemente
Mas que sempre insiste em arregalar os olhos
Testemunhando um espanto com a vida
O dizer tantas vezes torna-se sem sentido
Pois o que é sentido é sempre muito
Um render-se constante diante do que
Não se sabe como lidar
No papel que já fala tanto
O desenho pede para virar palavra
Escrita silenciosa nascida do eco
De se estar em companhia.