sábado, 24 de julho de 2010

A entrevista



A gente se forma e faz o que depois?
"Trabalha", é o que os outros dizem. Mas não é tão simples assim, tem outras coisas que se quer e tal. Pra tentar dar conta de tudo, resolvo que vou procurar um emprego que me permita continar fazendo outras coisas, assim tenho algum dinheiro e continuo com minha formação.
Me increvi então para vagar em telemarketing, nunca me imaginei fazendo isso, mas são só seis horas por dia e tal. No dia seguinte que me inscrevo sou chamada para uma entrevista. Fui, né? Vamos ver qual é.
Chego lá, já tem um monte de gente. Logo nos chamam e nos mandam entrar em uma sala. Umas sessenta pessoas tem que se entulhar praticamente dentro de uma sala um tanto pequena. Ok.
A mulher que está fazendo a entrevista, que trabalha na consultoria que organiza a seleção nem ao menos se preocupa em dar "Bom dia". Mal começamos a tentar caber na sala ela já está falando, ou melhor gritando, ordens. Ok.
Não tem lugar para todos sentarem, então acabo ficando de pé e bem na frente de todo mundo, ótimo!!!!
A mulher já vai olhando pra algumas pessoas e reconhecendo de outras entrevistas, diz que elas não podem participar. Com isso algumas pessoas vão embora e acaba sobrando uma cadeira pra mim, bem ao lado da entrevistadora.
Fico lá sentada, ouvindo e pensando: o que eu estou fazendo aqui? Fiz uma escolha, passei cinco anos na faculdade para me preparar para a profissão que escolhi e acabo numa entrevista pra algo que não tem nada a ver?
Velhas dúvidas aparecem. Será que vou conseguir trabalhar com psicologia? Ainda mais com a clínica? E o que eu aprendi na UFF, vai acabar se perdendo nesse mundo tão diferente dos nossos anos "uffianos"?
Sentada lá começo a prestar atenção na postura da entrevistadora, na situação toda da entrevista. Não entendo nada de RH, não foi algo que me interessasse durante minha formção, mas começo a questionar se é assim mesmo? É preciso falar com as pessoas como se elas fossem inferiores? É uma situação super estressante, será que não dá pra ter um pouco de educação, ou até gentileza? É assim mesmo, entulhar um monte de gente numa sala minúscula?
Que tipo de formação a entrevistadora tinha? Quais as exigências da empresa onde ela trabalha e da empresa pra quem eles fazem consultoria? Eles deram condições para uma entrevista diferente?
E as pessas que comparecem a essas entrevistas, já estão tão acostumadas com isso que não estranham mais? Dá pra questionar isso quando se precisa arrumar um emprego? Como será que elas se sentem sendo tratadas dessa maneira? Dispensadas de qualquer jeito porque não se encaixam nos padrões que nem ao menos ficam claros quais são?
Quando entrávamos na sala uma menina do meu lada começou a falar de como estava nervosa, da dificuldade dela de até respirar quando se sente assim. Não a conhecia, provavelmente nunca mais vou vê-la, mas tentei acolher seu nervosismo ao menos com um sorriso que demonstrasse que eu estava ouvindo.
Quando saí da entrevista fiquei pensando nisso tudo. Comecei a perceber que minha formação está mais presente do que eu imagino. A clínica está presente mais do que imagino. Fiquei feliz. Uma entrevista que não deu certo, acabou me mostrando que aprendi nesses anos todos, que mais do que uma profissão tenho referências para a vida e isso foi bom.
Então que venham outras entrevistas...

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