sábado, 9 de abril de 2011

Perder-se

Estou começando a achar que a minha inspiração é ter que andar pelo Rio de Janeiro. Sempre que vou para algum lugar por lá, sinto vontade de escrever. Ou talvez sejam os encontros do GIRA, já que são eles o motivo dessa minha locomoção... Mas vamos começar a história do começo.
Hoje tivemos um encontro de supervisão em Guadalupe, e como aqueles que já leram algo aqui no blog sabem, eu não sei andar no Rio, mas já havia ido uma vez antes a Guadalupe. Então, quando uma amiga (que não sabe andar pelo Rio) do grupo pergunta quem vai sair de Niterói, digo que como já havia feito o trajeto iria me perder um pouco menos. É aí que outra amiga responde a esses emails com a seguinte frase "perder-se também é caminho", da Clarice Lispector. Bem, no fim das contas a gente não chegou a se perder, apenas não fomos devidamente avisadas do que deveríamos fazer, mas conseguimos nos sair muito bem. No entanto, a frase ficou ecoando em minha cabeça durante toda a supervisão... Mas qual o motivo disso?
Acho que tem a ver com as coisas ditas na supervisão. Sentir-se só, precisar ser acolhido, afirmar escolhas, poder deixar que vejam nossa fragilidade, receber cuidado, cuidar... Tantas sensações, tantos afetos, tantas situações que são dos pacientes, mas que se misturam com nossas vidas, que nos pegam, nos embolam e parecem nos tirar do rumo, e que rumo é esse mesmo? Para onde pretendíamos ir ao escolher ser psicólogos, ao querer cuidar de outros (que nos chegam em situações tão doloridas, situações que nos tocam de tantas maneiras)? Que caminho é esse em que planejamos trabalhar de certo jeito, mas que vai nos fazendo encontrar sempre com o inesperado, nos desafiando, alargando nossos limites? 
"Perder-se também é caminho"... É fazer do novo, material de trabalho, é usar o que tenta nos paralisar como alavanca para o impulso; é fazer do que a princípio parece confusão, caminho errado, fim da linha, como nova estrada, atalho, trilha...É conhecer um lugar onde não se iria se apenas o que estivesse no cronograma, dentro do estritamente planejado fosse seguido. 
Como nos "perdemos" hoje? Fazendo o caminho correto: estávamos no caminho certo, mas achamos que estava errado, então tivemos que voltar um pedaço, para descobrir que o que pensávamos ser o certo não era e que o estávamos fazendo antes é que era. Confuso? Na hora foi só um pouquinho.Conseguimos fazer o caminho, chegamos onde queríamos, aprendemos algo mais sobre o metrô... Lá, na supervisão, também por momentos a sensação é de que tínhamos nos perdido, nos casos, na escolhas da profissão, na vida... Mas juntos construímos caminhos...

Um comentário:

  1. Nossa, difícil comentar...prefiro ficar com as sensações causadas em mim por esta bela escrita...
    Bjs!

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