quinta-feira, 14 de abril de 2011

Carta aos companheiros de viagem...


Queridos,
Escrevo para dar notícias ou melhor, para dizer como foi importante a última supervisão (seja do GIRA, seja a do Boa Cia) e também porque sinto-me contagiada por uma potência, que dentre outras coisas me fez querer muito compartilhar com vocês o que estou sentido: alegria. Mas deixa eu me explicar melhor:
Acabo de chegar do at. E ainda pelo caminho, andando pela praia de Icaraí, como há uma semana atrás, novamente me pego pensando na minha prática, tentando dar sentido para o que estou fazendo nesse at, enfim... Só que hoje há uma diferença, não me sinto entorpecida. Meu corpo sente junto comigo, sinto arrepios nas pernas, minha respiração regular, e um sorriso que não quer sair do meu rosto... Estou alegre, uma alegria sem motivo aparente, mas que pra mim nasce de uma leveza que venho experimentando desde sábado.
A indicação da Lívia no Gira foi tentar tornar o at mais leve, e sem perceber, acho que já fazíamos isso naquele momento. O encontro com o paciente na terça foi outro. No desenho, num primeiro momento não se sabia o que desenhar, foi aparecendo balões... Vários balões coloridos voando pelo céu. E uma pergunta que já não era feita há algum tempo reaparece: “vamos jogar ping-pong?”, ok vamos... E quando um convite para tomar um suco na rua é recusado, pode aparecer um: “então ta, eu vou depois sozinha”, que produz algo no outro que diz: “você quer ir tomar um suco no hortifrutti? Então vamos...” O at terça foi leve...
E a supervisão que pôde acontecer, não apenas falar de como estava indo o caso, mas estar junto. Poder falar de minha dificuldade com o at, da nossa dificuldade de se encontrar, e deixar aparecer com é lidar com a abertura, com a intensidade... Chorar e rir juntas, um pouco mais de leveza, sem esquecer a força, pensando num método para lidar com a intensidade... A supervisão foi leve e forte...
Nessa quinta, outro at, que de cara dispara um monte de perguntas: o que é que estou fazendo? Como é se faz at com um paciente que não é psicótico? Qual a singularidade desse caso? O que há de singular em cada at? Fui tomar suco com os dois pacientes, essa semana... Casos tão parecidos, mas tão diferentes! Casos singulares, e que me convocam de maneiras singulares também. Como criar um corpo para lidar com esses limiares de intensidade?
Só que todas essas perguntas aparecem sem terem peso, sem se tornarem desesperadoras, elas dão vontade de estudar, saio do at pensando no texto “Como criar para si um corpo sem órgãos”; dão vontade de escrever, de compartilhar o que estou sentindo com outros. Sinto uma potência, uma alegria... O at de quinta foi leve, forte e alegre...
Sábado e terça falamos da necessidade de “proteção”, de “anteparos” para lidar com a abertura, no encontro com as intensidades. Talvez tenha me esquecido que os afetos produzidos nesse encontro também podem ser bons, também podem aumentar minha potência. Hoje estou me lembrando disso, ou melhor, sentido.
Queridos, escrevo, como disse, para dar noticias, para dizer que acho importantíssimos esses nossos espaços de supervisão (mas isso vocês já sabem, né?), e porque quero fazer durar essa sensação...

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