sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Um pouco mais de Clarice...


"Eu só escrevo quando eu quero, eu sou uma amadora e faço questão de continuar a ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então em relação ao outro. Agora, eu faço questão de não ser profissional, para manter minha liberdade."


"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador."

"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando... "
Clarice Lispector

Tomo a liberdade de usar essas palavras, belas palavras, para tentar traduzir o que é o exercício da escrita para mim.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Flores e amizades insuspeitadas


Ando me surpreendendo com minhas mais recentes amizades. O que há de tão surpreendente? Não sei. Talvez seja o inesperado. Não podia esperar que as faria. Por quê? Porque elas nasceram sem que eu percebesse que as estava gerando. Como assim? Sempre tive a idéia de que é preciso cultivar as amizades. De que elas são como flores que precisam ter suas sementes plantadas, regadas até que brotem. O que venho descobrindo é que podemos fazer isso sem nem mesmo perceber. E que essas flores nascem em lugares que nem esperávamos. De onde vêm essas amizades? De dividir as horas de uma tarde durante a supervisão? De compartilhar uma mesma afinidade teórica? De fazer análise com a mesma terapeuta? De ter o mesmo estilo de trabalho? De tudo isso junto ou de nada isso? Não sei... Só percebo que aquela moça que esteve desde o começo na mesma turma da faculdade, que até tinha amigas em comum comigo, mas sempre foi apenas uma colega, agora se tornou outra coisa, rimos juntas, sabendo que também há espaço pro choro se preciso. A menina bonita que eu vejo passar, mas que não sei nem o nome, de repente se chega, tem um jeito doce, que cativa, e quando a gente percebe não quer mais que ela se afaste, sente falta da presença dela em outros lugares, fica “guardando sua vaga”. A magrinha, que sempre chora quando vai falar na supervisão, que parece ter um estilo diferente do meu, mas acaba virando parceira de trabalho, companheira dos afetos (seja nas angústias ou nos bons encontros), de criação. Essas flores são apenas exemplos... Há outros tantos, que pareciam distantes, diferentes de mim, mas que hoje fazem parte do meu trabalho, da minha escrita, da minha vida. A gente às vezes tenta controlar tanto as coisas que já de antemão faz uma lista decidindo as características de quem pode ser nosso amigo. Estabelecemos critérios como verdades absolutas e quem não se encaixa, não serve! Acabamos nos esquecendo da beleza que são flores nascendo em terra seca, ou na beira de uma estrada, em meio ao concreto. Esquecemos que do inesperado sempre vem maravilhas. Nunca suspeitei que faria amizade com algumas pessoas, que gostaria de tê-las fazendo parte de minha vida. Viver isso tem sido fantástico: um jardim florido e colorido, que não sabia que estava plantando, mas que ficarei imensamente feliz de cuidar!

domingo, 7 de novembro de 2010

O trem e a roda


Hoje andei de trem pela primeira vez! Foi uma experiência muito interessante, um pouco como quando se é criança, sabe? Há uma intensidade diferente até mesmo nos pequenos acontecimentos. Não é só um outro meio de transporte, até a nossa percepção é convocada de outra maneira, os sons são diferentes, a velocidade, a paisagem. Gente, e a movimentação dentro do trem? Vende-se de tudo, desde bala até dvd do pastor alguma coisa, o ex-diabo loiro (rsrsrs)!!! Adorei andar de trem!
Na verdade, hoje usei praticamente todos os meios de transportes terrestres possíveis: andei de ônibus, trem, carro, metrô e van! Pra que isso tudo? Para ir de Niterói até Campo Grande. Olha, é realmente uma viagem. Admiro as pessoas que precisam fazer esse trajeto todos os dias. 
O que eu fui fazer em Campo Grande? Supervisão. Encontrar minha roda de supervisão, o GIRA. Engraçado, pois roda combina muito bem com todo esse papo, né? Pois é, a roda me pôs em movimento. Me fez começar a conhecer o Rio, a experimentar outras formas de me locomover. Nesse percurso experimentei várias linhas que cruzam por esse território, as do ônibus, do trem, do metrô; tive que fazer conexões entre esses trasnportes diferentes, traçando um percurso, uma trajetória para chegar onde pretendia...
Não fiz isso sozinha, uma amiga me acompanhou. Compartilhamos o nosso desconhecimento do caminho, de como era andar de trem no Rio e de metrô em qualquer lugar. E chegando em nosso destino também pudemos ouvir como tinha sido o percurso que as outras pessoas traçaram para estarem ali.
Durante a supervisão fizemos o mesmo. Compartilhamos nossos afetos, nossas dúvidas, nossos planos, nosso delicioso lanche. Percorremos as linhas de vários territórios, traçando um mapa, que vai se fazendo a partir da nossa experimentação, da nossa vivência e que compoe um território comum, que ao mesmo tempo que estamos vivendo, estamos construindo.
Hoje fiz uma viagem. Uma viagem não apenas geográfica, mas uma viagem afetiva, intensiva. E foi incrível!!!