terça-feira, 10 de maio de 2011

Escrever

Por que é preciso publicisar?  Por que é preciso tornar novamente coletivo?
Essas questões ficam ressoando durante e ainda depois do Limiar. E elas trazem a sensação de que para pensar nisso é preciso pensar na experiência de escrever. É preciso pensar o que leva alguém a ter que escrever. Penso no meu processo de escrita. Não é só sentar e escrever. Quando escrevo? Quando algo transborda. Mas o que transborda? Uma intensidade, um afeto, que se torna grande e não cabe mais só em mim. No entanto, esse afeto, essa intensidade não é desde o início meu. Ele é um fora que me habita. É um caso que “pega”, uma situação que ocorre, é a vida no seu processo, que me atravessa, me afeta,  pega, me cria. E me criando vai formando esse “dentro”, onde recebe mais vida, mais afeto e assim por diante. Só que chega um momento que todo esse movimento, toda essa intensidade parece não caber mais. Paradoxalmente essa intensidade começa a parecer que é muita abertura, e dá a sensação de que se está sozinho diante disso tudo. É preciso falar, pôr em palavras para que algum outro as receba. Esse outro não precisa ser identificado, especificado. Pôr em palavras é endereçar, para que não se esvazie, mas para que também não se estoure. É não ficar sozinho com essa intensidade tão grande. É sentir que alguém também pode sentir o mesmo.
Junto com isso ainda aparece a questão da possibilidade de ao ler Pessoa colar com o Eu vazio ou com o Eu-plano-multidão. E última a supervisão do Gira, em que falei do at fica retornando na memória. Mas por quê? As sensações que retornam dessa supervisão são a necessidade de ter alguém que sentisse o mesmo que eu, e a outra que era anterior a essa, a de estar entorpecida. Parece para mim que essas duas sensações se aproximam dessas questões acima colocadas.
Diante de tamanha intensidade, uma saída possível é se entorpecer, para não ter que sentir esse tanto. E aí a quando vem a pergunta: “o que você está sentindo?”, para qual a única resposta só parece poder ser nada, um vazio. E nesse caso, não dá mesmo para falar, nem escrever, nem pensar. Porque o que move tudo isso está bloqueado, que é o sentir.
Outra saída possível é topar sentir as intensidades, é encarar se colocar frente a uma abertura sem-fim. Mas aí não dá pra encarar isso sozinho, sabe? Por isso essa sensação de que é preciso ter alguém que entenda o que estou sentindo, que sinta junto comigo. Falar em supervisão, procurar terapia, escrever... Pra dizer dessa intensidade, passá-la, transmiti-la de alguma forma, fazer esse contágio, pra não se estar só. Para não parar o movimento dessas forças em si mesmo, tomando tudo pra si, dar passagem, ser canal... Devolver pro coletivo o tanto que ele nos deu...
[continua... ou não...]

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