sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

   Esse texto não tem titulo, pois seu início se dá no fim, e porque o começo dessa história era apenas isto: uma aposta. Frente a um descontentamento, da necessidade de algo novo, de mais, era o desconhecido, o diferente, o “fora dos padrões”, uma tentativa.
   Estar durante quatro horas, ou mais, numa sala com mais um monte de gente (que na maior parte você mal conhece) todas as quintas de tarde podia parecer muito estranho, e fazendo o que? Boa pergunta... Porque não era simplesmente ouvir e falar de casos, não era só contar o que acontecia nos atendimentos; quando a roda rodava muito mais do que isso sempre foi compartilhado.
   Um ano e meio depois o fim se parece em muitas coisas com o início; o desconhecido, a diferença, o “fora dos padrões” continuam a existir. Só que agora mais do que entender, sente-se que é justamente nisso que se aposta. A tentativa é de nos aproximarmos sempre desse desconhecido, de não nos deixarmos endurecer nos padrões, para poder produzir constantemente esse diferir, que traz o novo como possibilidade.
   No fim a sensação de quem vai é muito parecida com a de quem chega, talvez porque esse fim seja justamente chegada em outros lugares... Sente-se que ainda se tem muito que experimentar, tudo é intenso e intrigante...
   Quem sai pode ficar feliz, pois leva nas mãos algumas vantagens, já que ao chegarmos nos vemos de mãos vazias, ou com pouquíssimas coisas nessas mãos.  O que fazemos durante nossa passagem é construir uma mala para as viagens, nossa maleta de trabalho ou como já foi dito nossa “caixa de ferramentas”. Também começamos a descobrir as ferramentas, os materiais que são úteis para se colocar nessa maleta. Aos poucos começamos a nos dar conta de que essa maleta esteve todo o tempo conosco: é o nosso corpo; e que as principais ferramentas também sempre estiveram em nossas mãos: nossos afetos. Mas estranhamente, é preciso acordá-los, tanto corpo quanto afetos, exercitá-los, nos sintonizarmos com eles, nos tornarmos sensíveis a eles. A pergunta que ficou para trás enfim é respondida: estamos semanalmente, durante todas essas horas exercitando a escuta, do outro e de nós mesmos.
   Quem sai, pode sentir-se feliz, pois leva consigo o que construiu durante esse tempo, pode parecer pouco ainda, mas já é tanto comparado a quando se chegou! E leva-se muito mais do que isso, porque não se estava aprendendo apenas uma técnica, não se travava apenas de aprender um método, talvez também se aprenda isso, mas aprendemos muito mais, pois se trata o tempo todo de falar da vida, de afirmá-la, de acompanhar por que caminhos ela se traça, o que ela produz, e sustentá-la.
   Como não falar do que se leva das pessoas com quem se dividiu todo esse tempo? Nesse espaço de tempo, nas muitas rodas que se criaram, pois esta roda não é a mesma de quando entrei... Uns que foram antes, outras que ainda vão ficar. Como não levar o que se aprendeu compartilhando os sorrisos, as dúvidas, os biscoitos, e muito mais? Saímos marcados por esses momentos, por essas pessoas. Sentirei saudades de compartilhar minha formação com vocês. Talvez por isso seja difícil dizer tchau, então antes quero dedicar umas palavras a algumas pessoas tão marcantes que me fizeram companhia durante este caminho.
   À moça de óculos séria e compenetrada que tem a incrível capacidade de me afetar cada vez que fala de seus casos, minha admiração pela clínica incrível que tem se tornado.
   Ao meu querido “devir esquizo”, suas intervenções nada convencionais sempre foram tudo de bom! Foi sempre muito bom poder escutá-lo. Poder experimentar uma modo novo de criação ao fazer origami foi importante e que bom que tive você como professor.
   À moça bonita, flor que faz flores, companheira de trabalho. Te acho o máximo sabia? Sua sensibilidade, sua entrega, seus sorriso... Sua boa companhia são importantes pra mim.
   À veterana, que há muito deixou de ser caloura, sua disposição para o trabalho e sua abertura pra escutar o que os outros têm a te dizer são admiráveis.
   À moça de fala doce, que me ensinou outra maneira de mostrar o quanto sinto, falando com as mãos.
  Às muitas mulheres, meninas e moças que fazem de uma, várias. Sua linha afetiva, intensa, que nos atravessou e nos contagiou foi imprescindível! Adorei poder dividir com você não só este, mas todos os outros espaços em que estamos juntas, inclusive podermos compartilhar de certa forma o mesmo espaço para o “cuidado de si”.
   A esses e aos outros que apesar de não estarem citados aqui são importantes, pois juntos é que podemos fazer esta roda, a todas as rodas que se fizeram neste tempo em que aqui estive, obrigada.
   Ao professor, um tanto temido, que foi aos poucos se transformando em supervisor, e que de supervisor pôde se tornar referencial: por sua dedicação pela clínica, seu comprometimento em estudar, por nos mostrar o que é acolher. E por fazer tudo isso conosco, nos acolhendo, estudando conosco, se dedicando a nossa formação enquanto clínicos. Fazendo tudo isso sem se colocar como nosso superior, mas justamente porque pôde estar ao nosso lado. Agradeço sua generosidade, sua disposição em investir na nossa formação. Agradeço ao hospitaleiro e ao coronel. Obrigada.
   Aos que chegam me permitam uma dica: aproveitem! Pode agora estar parecendo tudo muito louco, um tanto piegas esse texto, mas vivam essa experiência ao máximo que puderem, porque pode ser boa demais.
   Bem, como disse no começo essa história não tinha título, pois ainda não se sabia como ia ser. Agora, no fim, muitos nomes são possíveis, e aprendi que é isso o que importa. Muitas vezes ouvi: “não importam as entradas, desde que as saídas sejam múltiplas”. Pois é bom saber e poder dizer que estar na roda produziu muito, inclusive que posso agora girar pelo mundo. 
   Retornando ao fim, também é bom saber que este final não precisa ser um adeus. É sempre possível um espaço de encontro, estar com a roda em sua abertura, em seu limiar. Bom também é saber que levo comigo companheiros de trabalho, alguns com os quais já estou junto, outros que serão sempre bem vindos quando quiserem, e claro, que as amizades não precisam estar restritas a nenhum espaço. Enfim, paradoxalmente, é porque algo pode acabar que mais vida pode se produzir.
   A todos só tenho mais uma coisa a dizer: Até logo!



5 comentários:

  1. Eu também chorei...quanto emoção!

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  2. Camila, muito bonito tudo isso que vc escreveu e sentiu. Posso a partir do seu texto e principalmente da minha volta a essa roda, dar novos significados à minha experiência do estágio e da clínica. E a partir deste novo seguir em frente! Emocionante! Bjao

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  3. Fui eu, Luara, que postei esse comentário aí, não sabia que perfil escolher e o anônimo foi o único que funcionou... rsrsrs

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